Primeira sessão solene na AR em 1977 ainda cheirou a revolução

Primeira sessão solene na AR em 1977 ainda cheirou a revolução

A Revolução dos Cravos tinha acontecido há três anos, o período revolucionário do Verão Quente, até 1975, tinha passado e o país já votara em quatro eleições -- para a Constituinte, legislativas, presidenciais, locais e presidenciais - e o Governo era do PS, liderado por Mário Soares (1924-2017).

E se não houve sessão na Assembleia da República nos dois anos anteriores foi porque em 25 de abril de 1975 e 1976 se realizaram eleições, para Assembleia Constituinte e legislativas.

A sessão foi, não a 25, mas a 26 de abril de 1977, numa assembleia em que estavam representados cinco partidos, PS, PSD, CDS, PCP e UDP. Os discursos foram publicados, em livro, nos 25 anos do 25 de Abril, pela Assembleia da República, e disponibilizados no 'site' do parlamento, que a Lusa consultou.

Em 1977, como hoje, os discursos começavam pela bancada mais pequena, no caso, a UDP e Acácio Barreiros, prosseguindo com Octávio Pato, do PCP, Sá Machado, do CDS, Barbosa de Melo, do PSD, e Salgado Zenha, do PS.

O deputado Acácio Barreiros (1948-2004), de farto bigode, atacou as políticas de concessões aos grandes capitalistas e agrários e à ingerência externa e usou uma frase célebre pintada então em 'grafitis' pelo país: "Os ricos que paguem a crise."

"A única política capaz de galvanizar o povo de Norte a Sul, no continente e nas ilhas assenta em três pontos fundamentais: os ricos que paguem a crise; para que o povo seja livre há que reprimir os fascistas; imperialistas fora de Portugal", afirmou.

Os discursos seguiram à esquerda, com Octávio Pato (1925-1999), histórico do PCP, do alto da tribuna, a proclamar "solenemente" os valores do 25 de Abril "contra dúvidas e desânimos, contra ações ou ameaças terroristas, contra conspirações reacionárias, contra calúnias e insultos, contra propósitos de desforra e de vingança, que a democracia não se submete, que o 25 de Abril não se rende, que em Portugal haverá 25 de Abril sempre".

O primeiro discurso à direita pertenceu a Victor Sá Machado, do CDS (1933-2002), que se referiu à "revolução traída pelas aventuras totalitárias", numa referência aos tempos conturbados do Verão Quente, e apresentou o seu partido como "uma alternativa não socialista, europeia e cristã-democrata".

Mais ao centro, António Barbosa de Melo (1932-2016), do PSD, lembrou as "lições" retiradas da revolução e do 25 de Abril, a começar pelo "merecimento e o êxito da luta pela liberdade política", resultado do "ânimo e vontade" de gerações na luta pela liberdade.

Francisco Salgado Zenha (1923-1993) foi o orador escolhido pelo PS para esta sessão em que usou o termo do "socialismo em liberdade".

"Em liberdade porque não consentiremos que ela jamais desapareça da terra portuguesa", disse, afirmando ainda: "A liberdade gera liberdade. A ditadura reproduz a ditadura."

De pé foi aplaudido o general Ramalho Eanes, o "operacional" do 25 de Novembro de 1975 eleito um ano antes Presidente da República, que falou em liberdade, mas também dos problemas económicos do país.

E terminou com a seguinte frase: "Só a eficácia da democracia permite manter a estima do povo pelo regime democrático. E é ainda a defesa da democracia que exigirá a procura de alternativas que a garantam. Nesta hora do nosso destino de nação independente, não é legítimo ignorar a crise que nos ameaça: o estado da nossa economia, as contradições que dilaceram a nossa sociedade. Vivemos a primeira oportunidade democrática em meio século."

Fonte: mundo ao minuto
Publicada em 23 de April de 2019 às 09:55

 

Leia Também

Deputado Ismael Crispin atende demanda do vereador Maurinho e entrega quase meio milhão em investimentos ao Hospital Municipal de Costa Marques

O parlamentar, expressou sua satisfação em iniciar 2025 com mais uma entrega significativa para Costa Marques

Recursos na conta da prefeitura para nova rodoviária de Cacoal

Os recursos foram assegurados pelo deputado Cirone Deiró, com o apoio do governador Marcos Rocha

Deputado Lucas Torres solicita lotação de delegado na Polícia Civil de Extrema

Segundo indicação, objetivo é preencher vacância do cargo na delegacia

Secretário de obras Geraldo Sena determina paralisação das obras da rodoviária Destemidos Pioneiros

Secretário de Obras Geraldo Sena Neto

Envie seu Comentário