
O ministério da Justiça informa a opinião pública ter instruído os respetivos serviços de diligenciar um inquérito aprofundado sobre as circunstâncias" da morte de Kamel-Eddine Fekhar, indica um comunicado hoje divulgado pela agência noticiosa AFP.
Segundo o comunicado, Eddine Fekhar morreu terça-feira no hospital Frantz Fanon de Blida (50 quilómetros a sul de Argel), para onde foi transferido na véspera de urgência desde o hospital de Ghardaia, cerca de 480 quilómetros a sul de Argel e a principal cidade da região do M'zab.
Libertado em julho de 2017, após ter cumprido dois anos de prisão, incluindo por "ofensa à segurança do Estado" e "perturbação da ordem pública", Kamel-Eddine Fekhar foi de novo detido em 31 de março e colocado em prisão preventiva em Ghardaia por "atentado às instituições".
A sua morte suscitou uma vaga de indignação e de condenações entre a população e personalidades dos partidos da oposição na Argélia e no exterior.
Para além de Salah Dabouz, o advogado do defensor dos direitos humanos que acusou o poder argelino de ter "executado" Kamel-Eddine Fekhar, diferentes personalidades políticas argelinas são unânimes em denunciar as arbitrariedades a que foi sujeito antes da sua morte.
Segundo o seu círculo mais próximo, Fekhar, 54 anos, observava uma greve de fome desde a sua detenção em 31 de março.
Médico de formação, Fekhar integrava o grupo de militantes detidos após violências comunitárias na região do M'zab em 2015 entre Mozabitas, berberes seguidores do ibadismo, uma corrente minoritária do Islão, e Chaambas, árabes do rito maliquita.
A sua morte suscitou de imediato apelos à abertura de um inquérito sobre as circunstâncias da morte.
A Liga argelina para a defesa dos direitos humanos (LADDH) exigiu a "verdade sobre a morte" de Fekhar, que considerou um "prisioneiro de opinião".
A Frente das Forças Socialistas (FSS), o mais antigo partido da oposição na Argélia e com quem Fekhar se identificava, pediu "um esclarecimento total sobre as circunstâncias desta morte".
A Amnistia Internacional (AI) também tinha apelado às autoridades argelinas para "uma investigação efetiva, independente e imparcial (...) e fazer comparecer perante a justiça todos suspeitos de responsabilidade penal neste caso".
Em dezembro de 2016, o jornalista argelino Mohamed Tamalt morreu após três meses de greve de fome na prisão, onde purgava uma pena de dois anos por "ofensa ao Presidente da República".
Em paralelo, o chefe de estado-maior das Forças Armadas argelinas, denunciou na quarta-feira, sem designar, os que "fazem perdurar a crise" política na Argélia através do "rumor" e das "mentiras" nos media, e apelou aos jornalistas para se colocarem "ao serviço da Argélia".
Considerado o atual homem forte do país do Magrebe após a demissão do presidente Abdelaziz Bouteflika em 02 de abril, sob as pressões conjugadas de um inédito movimento de contestação de massas e a hierarquia militar, o general Ahmed Gaïd Salah exprimiu-se ontem pela segunda vez em dois dias, e pela quinta vez em dez dias.
Fonte: mundo ao minuto
Publicada em 30 de May de 2019 às 10:23