Xi reunirá com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, durante a visita de dois dias. Trata-se da primeira deslocação de um chefe de Estado chinês àquele país desde 2005.
A visita coincide com o 70.º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e a Coreia do Norte e ocorre nas vésperas do 69.º aniversário do início da devastadora Guerra da Coreia (1950-53), que terminou com a assinatura de um armistício que não foi ainda substituído por um tratado formal de paz.
A deslocação ocorre também numa altura em que as negociações entre Washington e Pyongyang parecem ter chegado a um impasse depois de, em fevereiro passado, a cimeira entre o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e Kim Jong-un, em Hanói, ter terminado sem um acordo.
A visita de Xi "indica que, geopoliticamente, a China continua a ser um poder fundamental para encontrar uma solução pacífica para a questão nuclear da península coreana", afirma à Lusa Wang Li, professor de Relações Internacionais na Universidade de Jilin, província chinesa situada junto à fronteira com a Coreia do Norte.
"Esta questão será discutida entre Xi e Kim e, em seguida, Kim decidirá como abordar as negociações com os EUA", aponta.
Em Hanói, os EUA rejeitaram a oferta de Pyongyang, de um desarmamento progressivo, em troca do levantamento das sanções, insistindo antes que o regime norte-coreano abdicasse de todo o seu arsenal atómico.
Desde então, nenhum contacto de alto nível entre os EUA e a Coreia do Norte foi anunciado.
A visita ocorre numa altura em que também as negociações entre Washington e Pequim, para pôr fim a uma guerra comercial que espoletou no verão passado, se encontram num impasse, após a administração Trump acusar os negociadores chineses de recuarem nos seus compromissos e aumentado as taxas alfandegárias sobre quase metade das importações oriundas da China.
Trump e Xi vão abordar as disputas comerciais, na próxima semana, durante o G20, no Japão.
"A influência da China sobre a RDPC [República Democrática Popular da Coreia] pode ser usada como moeda de troca nas negociações de um acordo comercial com os EUA", admitiu Wang.
"Ideologicamente, a China e a RDPC vão enfatizar a sua unidade ideológica", notou.
Nos anos 1950, China e Coreia do Norte lutaram juntas contra os EUA. Nos manuais escolares chineses, a "Guerra da Coreia" é designada "Guerra para Resistir à Agressão Imperialista Americana e Ajudar a Coreia".
A visita de Xi foi anunciada, na segunda-feira, pelo Departamento da Ligação Internacional do Comité Central do Partido Comunista da China, ao invés do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, como é costume nas deslocações do chefe de Estado chinês.
Rompendo também com o protocolo nas relações entre Estados, Xi Jinping visita Pyongyang depois de Kim ter visitado a China por quatro vezes, no espaço de um ano - as visitas deviam ocorrer alternadamente, de forma recíproca.
"A China e a Coreia do Norte vão enfatizar a sua amizade tradicional, forjada no sangue derramado", previu Wang.
"Isto é muito raro, mas necessário para os dois lados, numa altura em que os EUA são outra vez os rivais de Pequim e Pyongyang", conclui.
Fonte: mundo ao minuto
Publicada em 19 de junho de 2019 às 10:04