Quando a fé vira palco: o uso de eventos religiosos como trampolim político - Por Rubson Luiz

Quando a fé vira palco: o uso de eventos religiosos como trampolim político - Por Rubson Luiz

 

Em tempos de eleição, todo palco vira púlpito — e toda fé vira voto. A crescente mistura entre religião e política, principalmente em eventos públicos organizados por igrejas ou entidades supostamente cristãs, tem se tornado não só recorrente, mas escancarada. E em Rondônia, essa prática parece ter encontrado terreno fértil.

Não é raro ver políticos — ou aspirantes — surgirem “do nada” com a promessa de apoiar eventos gospel, levantar bandeiras de valores cristãos e até tentar viabilizar recursos por meio de emendas parlamentares para financiar shows e atrações religiosas. O discurso é bonito, revestido de moral e devoção. Mas nos bastidores, o interesse é outro: capital eleitoral.

A estratégia é simples e perigosa: aproxima-se do líder religioso, garante um espaço de fala no palco, patrocina um artista famoso com dinheiro público (ou com promessas vazias), e se apresenta como “homem ou mulher de Deus”, contando com o apoio cego de quem não vê o jogo político por trás da cortina espiritual.

Recentemente, o caso de um conhecido organizador de eventos que tenta ressurgir com um festival gospel em Rondônia, mesmo após ser acusado de golpes em shows anteriores, chama a atenção. Ele, agora, circula gabinetes em busca de emendas parlamentares para bancar artistas nacionais — em nome da fé. E pasmem: tem político disposto a topar.

O mais revoltante é que muitos desses eventos sequer têm prestação de contas adequada, os ingressos não são ressarcidos em caso de cancelamento, e os organizadores somem quando a bomba estoura. A fé, nesse cenário, deixa de ser ferramenta de transformação e passa a ser instrumento de manipulação.

É preciso dizer: religião não pode ser usada como escada para carreiras políticas. Nem o altar pode se transformar em palanque, nem o culto em campanha. A espiritualidade de um povo merece respeito, não exploração.

Enquanto a Justiça Eleitoral segue de olhos bem fechados para esse tipo de prática, a pergunta que fica é: até quando vamos aceitar que a fé do povo seja usada como moeda de troca para votos?

Quem tem fé, tem força. E quem tem força, precisa abrir os olhos.

Rubson Luiz é jornalista e estrategista em Marketing Político 

Fonte: Rubson Luiz
Publicada em 08 de April de 2025 às 11:10

 

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